Muitos repetem automaticamente a questão racial, comemorando que se trata do primeiro presidente negro americano. Besteira! Os negros já conquistaram inúmeros cargos importantes na política americana, e o simples fato de Obama ter disputado pelo maior partido americano, o Partido Democrata, já seria suficiente para mostrar que a cor da pele não é mais um impeditivo ao cargo máximo da política. Afinal, ele derrotou nas primárias a poderosa família Clinton! Um parêntese: Qualquer um com tanta sede pelo poder é a última pessoa que deveria ter poder. Além disso, aqueles que citam o aspecto racial parecem não notar que estão justamente aderindo ao racismo que dizem combater. Ora, por que devemos comemorar a eleição de alguém por causa da cor da pele? Isso é exatamente aquilo que Martin Luther King Jr. não queria! Seu sonho era uma nação onde as pessoas não fossem julgadas pela cor da pele, e sim pelo caráter. Qual o caráter de Obama? Algum empolgado defensor sabe? Quais são as grandes idéias de Obama? Algum emocionado defensor sabe? Pelo visto, querem Obama porque ele é negro, e isso é racismo puro, ainda que com sinal trocado.
Na verdade, a questão racial serviu desde o começo da campanha para blindar Obama contra críticas. A poderosa agenda “politicamente correta” vem ganhando mais espaço, e se alguém questiona a capacidade administrativa do candidato negro, é logo tachado de “racista”. Os cariocas conhecem bem essa patrulha, usada quando a então governadora petista Benedita se envolveu em escândalo de uso indevido do dinheiro público. O racismo é sempre execrável, mas isso vale para os dois lados. Se alguém deixa de votar num candidato apenas por causa da cor da pele, isso é tão abominável quanto alguém votar num candidato apenas por causa da cor da pele. Infelizmente, creio que isso aconteceu em grande escala nessas eleições americanas. Afinal, quantos eleitores de Obama realmente conheciam suas principais idéias? Qual o grande currículo de Obama, cuja “profissão” na vida sempre foi ser político? Como disse Charles de Gaulle, “a política é um assunto sério demais para ficar nas mãos dos políticos”. Obama nunca quis gerar riqueza no setor privado. Pelo visto, ele tinha algo mais “nobre” em mente: usar a riqueza alheia para pregar a “justiça social”. Não sei quanto ao leitor, mas eu admiro mais a trajetória de um Michael Bloomberg da vida...
As idéias de Obama são claramente intervencionistas, alinhadas com a agenda “progressista” que condena o livre mercado. Qual a coerência da esquerda brasileira, que sempre acusou os americanos de pregar o liberalismo enquanto pratica o protecionismo em casa, em defender Obama? Ora, Obama é o candidato dos subsídios agrícolas, o candidato do protecionismo comercial, justamente tão atacado no Brasil – e com razão. Eu já não cobro coerência da esquerda faz muito tempo. Afinal, os mesmos que condenam esse protecionismo americano adoram quando o próprio governo adota medidas protecionistas, e ainda recebem o francês Bovè, ícone dos subsídios agrícolas da Europa, com tapete vermelho no Fórum Social Mundial. Ou então condenam o embargo americano a Cuba pela miséria da ilha-presídio, ao mesmo tempo em que chamam de “exploração” o comércio com os americanos. Está mais do que na hora da esquerda decidir se o livre comércio é algo bom ou ruim! E poderia aproveitar para resolver se é desejável que o governo tire dinheiro do pagador de impostos para dar aos banqueiros, pois o PROER foi motivo de fúria em nossa esquerda, enquanto hoje ela aprova os pacotes de ajuda do governo aos bancos. Melhor não tentar entender a “lógica” esquerdista...
Algo muito interessante nessa vitória de Obama foi o entusiasmado apoio que ele recebeu de tantos antiamericanos ferrenhos, os mais patológicos de todos. Será que Ahmadinejad, Raúl Castro, Lula e tantos outros que sempre destilaram seu ódio ao “império” americano e seu modus vivendi, repentinamente passaram a gostar dos Estados Unidos? Não parece estranho que os maiores inimigos dos Estados Unidos estavam do lado de Obama? Fora isso, ele recebeu amplo apoio dos maiores inimigos internos dos Estados Unidos também. Os fortes sindicatos, que tentam garantir privilégios à custa dos demais trabalhadores, doaram milhões para a campanha de Obama. A grande imprensa foi toda favorável a Obama. Os “intelectuais”, que costumam ser bajuladores de ditaduras esquerdistas mundo afora, estavam todos com Obama. Os atores de Hollywood, sempre prontos para atacar os Estados Unidos e defender regimes nefastos, deram total apoio a Obama. Enfim, mesmo se não soubesse nada das idéias de Obama, já ficaria contra ele, somente pela lista assustadora de empolgados defensores de sua vitória.
Espero que o governo de Obama não seja um desastre para os Estados Unidos, como foi o governo de Bush. Mas acho difícil evitar um avanço ainda maior do governo nas liberdades individuais. Infelizmente, os pilares ideológicos dos “pais fundadores” da nação estão cada vez mais enterrados por lá também. A própria idolatria ao presidente, o culto ao “messias salvador”, com inúmeras pessoas chorando de tanta emoção com a crença de que os males serão solucionados através da magia estatal, demonstra como o país se afastou dos princípios liberais de seus fundadores. Estes enxergavam com enorme desconfiança o governo, visto como um “mal necessário”, cuja função básica era apenas preservar as liberdades e o direito de propriedade privada. Algo muito diferente da imagem que muitos têm do governo atualmente, uma espécie de Deus capaz de criar riqueza num estalo de dedos. E Obama é seu mais novo profeta, o representante do próprio Deus na Terra.
O que a vitória de Obama realmente representa é isso: a crescente tendência de aumento do governo e concomitante redução da liberdade individual; a vitória da agenda “politicamente correta” que prega a “diversidade” enquanto é totalmente intolerante com certas diferenças; a vitória dos dogmáticos que pregam a “mudança” enquanto desejam apenas mudar os outros; e, por fim, o uso inadequado da questão racial, que não passa de racismo com sinal trocado.
Rodrigo Constantino
Economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC, trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e depois administrador de portfolio. Autor de dois livros: Prisioneiros da Liberdade, e Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT, pela editora Soler. Está lançando o terceiro livro sobre as idéias de Ayn Rand, pela Documenta Histórica Editora. Membro fundador do Instituto Millenium. Articulista nos sites Diego Casagrande e Ratio pro Libertas, assim como para os Institutos Millenium e Liberal. Escreve para a Revista Voto-RS também. Possui um blog para a divulgação de seus artigos
Site: http://rodrigoconstantino.blogspot.com
E-mail: constantino.rodrigo@gmail.com
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