Muitos historiadores tentaram explicar o surgimento do nazismo de diferentes formas. O enfoque do economista Mises, no entanto, é bastante peculiar, pois mostra como o nazismo foi um filhote da mentalidade estatizante que dominou o mundo na época, e a Alemanha em particular. O prisma econômico de Mises permite uma abordagem transparente, que desfaz uma das maiores inversões já criadas na história: a idéia de que o nazismo é de “direita” e, portanto, oposto ao socialismo e mais próximo do capitalismo. Socialismo, afinal, trata de um sistema econômico de organização da sociedade, defendendo meios públicos de produção, contra o pilar do capitalismo, que é a propriedade privada. Analisando por este ângulo, fica evidente a proximidade entre nazismo e socialismo, ambos totalmente opostos ao capitalismo de livre mercado.
Quando se fala em nazismo, o anti-semitismo é uma das primeiras características que vem à mente. Mises mostra, no entanto, que esse ódio racial foi apenas um pretexto utilizado pelos nazistas, transformando os judeus em bodes expiatórios. Era impossível diferenciar antropologicamente alemães judeus dos não-judeus. Não existem características raciais exclusivamente judaicas, e o “arianismo” não passava de uma ilusão. As leis nazistas de discriminação contra os judeus não tinham ligação com considerações da raça em si. Eles se uniram aos italianos e japoneses, sem ligação alguma com a “supremacia racial nórdica”, enquanto desprezavam os nórdicos que não simpatizavam com seus planos de domínio mundial. Tantas contradições não incomodavam os “arianos”, pois o racismo não era a causa do movimento, e sim um meio político para seus fins.
Tudo aquilo que representava um empecilho no caminho do poder total era considerado “judeu” pelos nazistas. Apesar de os nacionalistas alemães considerarem o bolchevismo uma criação judaica, isso não os impediu de cooperar com os comunistas alemães contra a República de Weimar, ou de treinar seus guardas de elite nos campos de artilharia e aviação russos entre 1923 e 1933. Também não os impediu de costurar um acordo de cumplicidade política e militar com a União Soviética entre 1939 e 1941. Mesmo assim, a opinião pública defende que o nazismo e o bolchevismo são filosofias implacavelmente opostas. O simples fato de que os dois grupos lutaram um contra o outro não prova que suas filosofias e princípios sejam diferentes. Sempre existiram guerras entre pessoas do mesmo credo ou filosofia. Se a meta for a mesma – o poder – então será natural uma colisão entre ambos. O rei Charles V disse uma vez que estava em pleno acordo com seu primo, o rei da França, pois ambos lutavam contra o outro pelo mesmo objetivo: Milão. Hitler e Stalin miravam no mesmo alvo. Ambos desejavam governar a Polônia, a Ucrânia e os estados bálticos. Além disso, disputavam o mesmo tipo de mentalidade, aqueles desesperados que estão dispostos a sacrificar a liberdade em prol de alguma promessa de segurança. Nada mais normal do que um bater de frente com o outro, quando sustentar o acordo mútuo ficou complicado demais. Não devemos esquecer que os socialistas de diferentes credos sempre lutaram uns contra os outros, e isso não os torna menos socialistas. Stalin não virou menos socialista porque brigou com Trotsky.
Os bolcheviques partiram na frente em termos de conquista de poder, e o sucesso militar de Lênin encorajou tanto Mussolini como Hitler. O fascismo italiano e o nazismo alemão adotaram os métodos políticos da União Soviética. Eles importaram da Rússia o sistema de partido único, a posição privilegiada da polícia secreta, a organização de partidos aliados no exterior para lutar contra seus governos locais e praticar sabotagem e espionagem, a execução e prisão os adversários políticos, os campos de concentração, a punição aos familiares de exilados e os métodos de propaganda. Como Mises disse, a questão não é em quais aspectos ambos os sistemas são parecidos, mas sim em quais eles diferem. O nazismo não rejeita o marxismo porque sua meta é o socialismo, e sim porque ele advoga o internacionalismo. Ambos são anticapitalistas e antiliberais, delegando todo o poder ao governo centralizado e planejador. No nazismo, a propriedade privada não foi abolida de jure, mas foi de faContinue lendo
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