O problema com Obama é muito simples. Ele força demais no bom-mocismo, a imagem que ele vende é diferente demais da realidade: no empenho desesperado de encobrir a diferença, ele se atrapalha todo e acaba não dizendo coisa-com-coisa.
Numa pesquisa da America Online, que perguntava se Obama é “liberal” (esquerdista), “conservative” ou “flip-flop” (muda de lado a toda hora), 82 por cento dos entrevistados votaram no “flip-flop”. Eu estava online e votei também, mesmo sabendo que as alternâncias dele são só da boca para fora, que por dentro ele continua tão pró-comunista, pró-terrorista e desvairadamente antiamericano quanto Osama bin Laden poderia exigir da mais fiel das suas esposas. Pois a encrenca é exatamente essa: Obama não é autêntico nem na indefinição. John Kerry também mudava de posição toda semana, mas fazia isso porque não tinha mesmo convicção nenhuma, queria só chegar à presidência. Políticos sem convicções não são tão maus quanto parecem. Alguns alcançaram enorme sucesso, fizeram até grandes coisas. Abraham Lincoln só se voltou contra a escravidão quando lhe pareceu conveniente. Franklin Roosevelt não acreditava numa só palavra do que dizia, mas, quando decidia, estava decidido. O nosso Getúlio Vargas morreu sem que ninguém soubesse qual era afinal a ideologia dele; seus discursos eram obras-primas da desconversa universal – mas quem vai negar que ele criou as bases da indústria brasileira? A ausência de convicções, o flip-flop mais desvairado, pode ocultar um pragmatismo saudável. Mas Obama só se faz de pragmático para esconder os compromissos explosivos que o tornam um óbvio inimigo do seu país. E os escondeu tão bem que eles acabaram aparecendo na capa da New Yorker.
Enquanto isso, o velho McCain se faz de inofensivo, só esperando que o adversário morra pela boca. É tática de pobre, mas às vezes funciona. Obama tem 315 milhões de dólares a mais que ele para a campanha. Se torrar tudo em camuflagens, terá obtido o mesmo resultado eleitoral que alcançaria se comprasse 315 milhões de dólares em roupas árabes.
O de Carvalho
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