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02/07/2008

CASA DELLES



Este artigo é a continuação duma série que começou com “Onde Fica o Ninho das Serpentes?” e continuou com “A Rainha das Saúvas”. O assunto é a Universidade e seu papel como fonte do processo subversivo que vem dominando o mundo ocidental, inclusive o Brasil. A subversão emana das universidades, mas não é por elas diretamente assumida. A ação fica por conta outras de instituições, tão numerosas e onipresentes que confundem as vítimas, levando-as, como os touros, a arremeter contra o pano vermelho, sem perceber que o inimigo é o toureiro.

Muito bem: se o negócio é a universidade, temos de entender a sua natureza. Universidades são instituições. Instituições têm vidas próprias, independentes das vidas e das idéias de seus membros, e preservam, através das gerações, o seu espírito originário. Por isso, para compreender a Universidade, é indispensável voltar ao passado e observá-la na sua remota origem.


As três primeiras universidades surgiram na Europa, entre o final do século 11 e o começo do século 12. A de Bolonha era forte em Direito; a de Salerno, em Medicina; e a de Paris em Humanidades (ou Artes Liberais). Cada uma serviu de protótipo às dezenas de universidades que em seguida se estabeleceram por toda a Europa, com parcial exceção de Oxford e Cambridge.
A que mais nos interessa é a de Paris que, além de ter sido a de maior prestígio, inspirou o modelo adotado mais tarde adotado no Brasil.

Que eram, afinal, as antigas universidades? No latim medieval, universitas significava simplesmente “comunidade”, “coletividade”, mas podia também ser empregada no sentido de “galera”, “turma”, “panela”. Essas conotações refletem o verdadeiro espírito da instituição, desde seu início: o de coletividade fechada e unida no melhor e no pior sentido. Nas cidades medievais, como se sabe, ninguém podia sobreviver sem pertencer a alguma agremiação. As universitates eram associações de alunos, ou de alunos e mestres – quase todos forasteiros – , com a finalidade de garantir-se mútuo apoio, assistência e socorro numa terra estranha.
Essas panelas de estudantes e mestres eram a universidade. Não havia prédios, nem bibliotecas, nem alojamentos, nada. As aulas eram ministradas em qualquer local; o ensino era predominantemente verbal, pois o material de escrita era caro e ruim; e os livros, tão poucos que podiam facilmente ser carregados num baú.

A universitas, além de estudar, gostava de beber nas tabernas sem pagar e de destratar os ignorantes burgueses, além de mexer com suas mulheres e seduzir suas filhas. Havia freqüentes rixas, algumas das quais degeneravam em tumultos sangrentos. Invariavelmente o Rei ou o Papa tomava o partido da universidade contra as vítimas.

E quando o apoio de cima não vinha, a universidade recorria à extorsão. Dois de seus instrumentos favoritos eram a cessatio lectiones – ou seja, a greve ou interrupção das aulas – ou a migratio, que consistia em mudar de cidade, coisa fácil devido ao caráter imaterial da universidade. As autoridades raramente resistiam, e assim as universidades foram extorquindo mais e mais privilégios.

Um deles era o foro especial para crimes ou lides civis de seus membros (estudantes, mestres e funcionários), os quais só podiam ser julgados por juiz especial ou pelo reitor ou chanceler da própria universidade.

A autonomia era outro privilégio ferozmente reivindicado pela universidade. Vindos de muitos locais da Europa, os estudantes tinham visão ampla e superior do mundo. Não havia entre eles barreiras nacionais, porque todos usavam o latim. E afinal, quem contratava e pagava os professores era o corpo de estudantes, ou seja, a universitas. Era natural que não quisessem submeter-se aos bispos e autoridades locais.


Junto com a autonomia, a universidade ganhou também imunidades civis. Em Paris, por exemplo, os estudantes eram considerados clérigos, de modo que gozavam de todos os privilégios dessa categoria. Mas ao mesmo tempo eram dispensados do celibato, de modo que podiam xumbregar à vontade. Assim, juntavam o melhor de dois mundos.


Outro privilégio era a isenção de tributos locais, tanto para a universitati como para os estudantes, como indivíduos.


Além do foro especial e da autonomia, a universidade obteve o monopólio da emissão de diplomas. Só ela podia admitir novos estudantes e formar mestres. Assim, adquiriu absoluto controle da formação dos quadros burocráticos, acadêmicos e eclesiásticos. Justiça seja feita. A coisa funcionava, e foi ela o principal fator de transformação do mundo medieval no mundo moderno.
Tanto a admissão como as formaturas eram formalizadas em cerimônias com solenes juramentos de fidelidade à universidade. Na Idade Média esses juramentos eram para valer e prendiam para o resto da vida. Observe o leitor: não eram juramentos a Deus, nem ao Rei, nem ao Papa: o que se exigia era a fidelidade à universidade, ou seja, à patota, à turma, à galera. Dá para entender?
Outra característica das universidades (antigas e modernas) é que todas eram (e são) extremamente parecidas em espírito, ideologia, método e organização. A extraordinária semelhança não se deve apenas à imitação. É mais do que isso: as novas universidades eram fundadas por mestres oriundos das antigas, os quais transplantavam fielmente as instituições anteriores, como num processo de reprodução biológica. Essa hereditariedade instituci-onal fez com que as universidades enfim formassem uma espécie de rede internacional, unida não só pela fraternidade, mas também por contínuo intercâmbio de serviços, pessoas e informações.


Esse brevíssimo resumo dos primórdios das universidades já basta para informar-nos quanto à origem de muita coisa que persiste até os nossos dias.


Desde a origem, as universidades são corporações coesas e fechadas. Surgiram como instituições supranacionais, avessas à Nação, hostis ao patriotismo e fundamentalmente cosmopolitas. Sempre, desde o século 12, utilizaram a greve e a paralisação das aulas como instrumentos de coação. E a coação sempre funcionou porque os dirigentes políticos, os quadros burocráticos e até mesmo as autoridades policiais provêm dos bancos universitários. Tendo o monopólio da formação e da certificação de todos os profissionais superiores, a universidade influencia poderosamente a administração pública, a política, a mídia, a expressão cultural, as empresas e os movimentos sociais. Além disso, a universidade é integrada a uma gigantesca rede internacional, a qual por sua vez é ligada à ONU, à cadeia global de ongues e às entidades financiadoras da subversão apátrida.
Aí estão todos os elementos de uma conspiração mundial, conspiração que, já vimos, existe e atua, e não é nada invisível. Falta apenas entender por que essa imensa instituição é intrinsecamente subversiva e esquerdista. Isso não acontece por acaso. É o que veremos nos próximos artigos.


* A. C. Portinari Greggio

Economista, ex-aluno da Escola
Preparatória de Cadetes de São Paulo
INCONFIDÊNCIA

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