No último artigo, mencionei a onipresente conspiração esquerdista que domina as escolas, as universidades, a tevê, os jornais, o cinema, a literatura, tudo, enfim. Em conseqüência desse predomínio cultural, a conspiração se apossou da opinião pública, dos partidos políticos e hoje desgoverna o Brasil, levando-o gradativamente para o abismo.
Mas o artigo não foi escrito para repisar fatos tão notórios. A questão era outra: qual seria a origem dessa conspiração universal? Como dizíamos, o avassalamento da cultura, da política e do poder não aconteceu por acaso, nem é fenômeno da Natureza. É coisa tramada, urdida, imposta de fora.
Assim sendo, a conspiração esquerdista deve emanar de alguma organização mundial muito bem articulada. Examinamos várias hipóteses: os velhos Partidos Comunistas, o “movimento comunista internacional”, as fundações “filantrópicas” dos países ricos, a maçonaria, certas facções do povo judeu, a ONU, o CFR, a Trilateral... Não há dúvida de que algumas dessas entidades ou grupos participaram ou participam do processo, como agentes, instrumentos, seja o que for. Mas não dá para identificar em nenhuma delas a fonte geradora de tudo.
Sem concluir o artigo, deixamos a pergunta no ar: onde está o misterioso centro da conspiração mundial? Espero que o leitor não tenha ficado em suspense, sem dormir, à espera do desfecho. Eu até gostaria de ter talento para escritor de romances, mas infelizmente não há nenhuma surpresa escondida.
A fonte, o centro, a matriz da conspiração esquerdista é a universidade.
O leitor poderia contestar essa afirmação. É fato que as universidades são focos de doutrinação esquerdista. Mas daí a apontá-las como fonte de todo o mal? As universidades educam. Não são elas a sede do Saber, da Inteligência, da Liberdade de pensar, de inquirir, de criticar e de buscar a Verdade? Se existe subversão dentro das universidades, são apenas minorias infiltradas. Ademais, como se pode afirmar que as universidades sejam engrenagens duma conspiração, se cada universidade é visceralmente autônoma?
Tudo isso é verdade, mas apenas parte da verdade.
A universidade é uma instituição medieval e anacrônica. O fato de ser medieval não é, em si, nenhum pecado; mas a sobrevivência, em pleno século 21, de grêmios medievais do século 12, com todas as prerrogativas, privilégios e rituais da Idade Média, é coisa muito estranha, mormente em se tratando de instituições que se ufanam de ser as vanguardas da revolta, do inconformismo e do mais ousado deboche revolucionário; laboratórios onde nascem e florescem todos os modismos subversivos; centros de contestação nos quais os fundamentos da família, da sociedade e da nação são sistematicamente criticados e desconstruídos.
A universidade ensina? Sim, mas não é a única fonte possível do ensino superior e nem sequer é o melhor veículo para ministrá-lo. O ensino superior pode existir sem elas, e a melhor prova disso são as instituições militares, que proporcionam, a militares e civis, formação em múltiplas especialidades, com qualidade superior à das universidades.
A universidade também não é santuário da liberdade de pensamento. Ao contrário, os campi universitários, especialmente os dos Estados Unidos, são campos de concentração comandados por quadrilhas de acadêmicos inamovíveis que utilizam suas cátedras como trincheiras na luta pelo poder político e promovem a reeducação e a lavagem cerebral dos alunos nos piores modelos da depravação pós-moderna.
Sendo esse o ambiente dos camporum, pode-se pôr em dúvida a alegação de que as universidades são o ambiente propício à pesquisa e ao avanço de todos os ramos do conhecimento. Isso até pode ser verdade nas ciências exatas, biomédicas e outras especialidades e nichos mais ou menos imunes à imbecilização militante. Mas grande parte da produção acadêmica não passa de embromações para mostrar serviço, justificar empregos e verbas, e conferir títulos acadêmicos aos autores. Aliás, é nessa atividade que as universidades melhor exibem as suas características de grêmios medievais.
Outra pretensa virtude das universidades é a interdisciplinaridade. Dispondo de variado leque de opções, o aluno de engenharia, por exemplo, pode ampliar seus horizontes aprendendo também sociologia, política ou filosofia dentro do campo. Mas também é verdade que nos Estados Unidos a interdisciplinaridade tem sido utilizada de modo bastante criativo, para inventar um monte de especialidades híbridas, com currículos à la carte e sem padrões de aferição, as quais oferecem vasto campo à vagabundagem e à charlatanice.
Se a universidade deixa a desejar em educação, é excelente em política. Qualquer estudo atento das revoluções dos últimos duzentos anos revelará que nenhuma foi feita pelo povo ou pelo proletariado. Todas foram tramadas, incitadas e conduzidas por intelectuais e grande parte dos eventos revolucionários aconteceu dentro das universidades. Se quisermos compreender a história desses tumultos, é nesse grupo que devemos concentrar nossa atenção.
Dizer que a universidade está infiltrada por subversivos é tão redundante quanto dizer que a Marinha está infiltrada por marujos. Os marujos são a Marinha, assim como os intelectuais subversivos são a universidade. A universidade é intrinsecamente subversiva. As contínuas greves e agitações, tais como a recente ocupação da reitoria da USP pelos fefeleches, não são acidentes. São manifestações de um contínuo processo de subversão que, repetimos, é da índole das universidades.
Isso não significa que elas sejam inteiramente voltadas à subversão. Na verdade as universidades, desde o século 19, têm estado separadas entre dois pólos antagônicos: dum lado, as letras, humanas e sociais; e do oposto, as exatas, geralmente representadas pela engenharia. Entre os dois pólos flutuam, indecisas, as jurídicas, biomédicas e outras especialidades com menor comprometimento político. Essa polarização indica que a maioria dos alunos e professores não está engajada na subversão, mas não impede que a esquerda – as letras, humanas e sociais, ou seja, os fefeleches – prevaleça e apareça perante o público como a personificação política da universidade.
É, portanto, o predomínio dos fefeleches sobre as demais faculdades que dá à universidade o seu caráter subversivo. Mas não se pode culpá-los. Quem pesquisar a história das universidades desde o século 12 verificará que foram fundadas por humanistas, interessados em teologia, letras, filosofia, artes e direito, que num longo processo histórico estabeleceram o caráter e as tradições da instituição. Intelectualmente, os fefeleches de hoje são os legítimos herdeiros da universidade medieval. Herdeiros degenerados, sem dúvida, que cobririam de vergonha seus antepassados, mas herdeiros, de qualquer modo.
A polarização da universidade entre fefeleches e engenheiros é muito mais significativa do que parece. Ela reflete duas tendências antagônicas que dividem a elite de todos os países. Esse antagonismo explica muito da história contemporânea, e sua compreensão pode nos fornecer a chave do comportamento político das esquerdas brasileiras no poder, bem assim dos erros teóricos da nossa oposição.
Nos próximos artigos desta série, vamos examinar um pouco da história das universidades e do surgimento da classe dos intelectuais a partir do século 16. É na evolução dessa classe, cada vez mais consciente de si e de seus interesses, que está a explicação da misteriosa conspiração internacional, cuja base operacional é a rede universitária.
O Brasil, dominado pela camarilha dos fefeleches, caminha para o desastre. É preciso entender que nenhuma revolução poderá salvar o País se não mexer com a universidade. Dizia-se antigamente que ou o Brasil acabava com a saúva, ou a saúva acabava com o Brasil. Para acabar com o sauveiro é necessário chegar à rainha, a matriz reprodutiva do sistema. Nada de original nessa providência: foi exatamente isso o que todos os governos comunistas fizeram ao chegar ao poder. Os mesmos governos que os fefeleches tanto defendem e admiram.
* A. C. Portinari Greggio
Economista, ex-aluno da Escola
Preparatória de Cadetes de São Paulo
Mas o artigo não foi escrito para repisar fatos tão notórios. A questão era outra: qual seria a origem dessa conspiração universal? Como dizíamos, o avassalamento da cultura, da política e do poder não aconteceu por acaso, nem é fenômeno da Natureza. É coisa tramada, urdida, imposta de fora.
Assim sendo, a conspiração esquerdista deve emanar de alguma organização mundial muito bem articulada. Examinamos várias hipóteses: os velhos Partidos Comunistas, o “movimento comunista internacional”, as fundações “filantrópicas” dos países ricos, a maçonaria, certas facções do povo judeu, a ONU, o CFR, a Trilateral... Não há dúvida de que algumas dessas entidades ou grupos participaram ou participam do processo, como agentes, instrumentos, seja o que for. Mas não dá para identificar em nenhuma delas a fonte geradora de tudo.
Sem concluir o artigo, deixamos a pergunta no ar: onde está o misterioso centro da conspiração mundial? Espero que o leitor não tenha ficado em suspense, sem dormir, à espera do desfecho. Eu até gostaria de ter talento para escritor de romances, mas infelizmente não há nenhuma surpresa escondida.
A fonte, o centro, a matriz da conspiração esquerdista é a universidade.
O leitor poderia contestar essa afirmação. É fato que as universidades são focos de doutrinação esquerdista. Mas daí a apontá-las como fonte de todo o mal? As universidades educam. Não são elas a sede do Saber, da Inteligência, da Liberdade de pensar, de inquirir, de criticar e de buscar a Verdade? Se existe subversão dentro das universidades, são apenas minorias infiltradas. Ademais, como se pode afirmar que as universidades sejam engrenagens duma conspiração, se cada universidade é visceralmente autônoma?
Tudo isso é verdade, mas apenas parte da verdade.
A universidade é uma instituição medieval e anacrônica. O fato de ser medieval não é, em si, nenhum pecado; mas a sobrevivência, em pleno século 21, de grêmios medievais do século 12, com todas as prerrogativas, privilégios e rituais da Idade Média, é coisa muito estranha, mormente em se tratando de instituições que se ufanam de ser as vanguardas da revolta, do inconformismo e do mais ousado deboche revolucionário; laboratórios onde nascem e florescem todos os modismos subversivos; centros de contestação nos quais os fundamentos da família, da sociedade e da nação são sistematicamente criticados e desconstruídos.
A universidade ensina? Sim, mas não é a única fonte possível do ensino superior e nem sequer é o melhor veículo para ministrá-lo. O ensino superior pode existir sem elas, e a melhor prova disso são as instituições militares, que proporcionam, a militares e civis, formação em múltiplas especialidades, com qualidade superior à das universidades.
A universidade também não é santuário da liberdade de pensamento. Ao contrário, os campi universitários, especialmente os dos Estados Unidos, são campos de concentração comandados por quadrilhas de acadêmicos inamovíveis que utilizam suas cátedras como trincheiras na luta pelo poder político e promovem a reeducação e a lavagem cerebral dos alunos nos piores modelos da depravação pós-moderna.
Sendo esse o ambiente dos camporum, pode-se pôr em dúvida a alegação de que as universidades são o ambiente propício à pesquisa e ao avanço de todos os ramos do conhecimento. Isso até pode ser verdade nas ciências exatas, biomédicas e outras especialidades e nichos mais ou menos imunes à imbecilização militante. Mas grande parte da produção acadêmica não passa de embromações para mostrar serviço, justificar empregos e verbas, e conferir títulos acadêmicos aos autores. Aliás, é nessa atividade que as universidades melhor exibem as suas características de grêmios medievais.
Outra pretensa virtude das universidades é a interdisciplinaridade. Dispondo de variado leque de opções, o aluno de engenharia, por exemplo, pode ampliar seus horizontes aprendendo também sociologia, política ou filosofia dentro do campo. Mas também é verdade que nos Estados Unidos a interdisciplinaridade tem sido utilizada de modo bastante criativo, para inventar um monte de especialidades híbridas, com currículos à la carte e sem padrões de aferição, as quais oferecem vasto campo à vagabundagem e à charlatanice.
Se a universidade deixa a desejar em educação, é excelente em política. Qualquer estudo atento das revoluções dos últimos duzentos anos revelará que nenhuma foi feita pelo povo ou pelo proletariado. Todas foram tramadas, incitadas e conduzidas por intelectuais e grande parte dos eventos revolucionários aconteceu dentro das universidades. Se quisermos compreender a história desses tumultos, é nesse grupo que devemos concentrar nossa atenção.
Dizer que a universidade está infiltrada por subversivos é tão redundante quanto dizer que a Marinha está infiltrada por marujos. Os marujos são a Marinha, assim como os intelectuais subversivos são a universidade. A universidade é intrinsecamente subversiva. As contínuas greves e agitações, tais como a recente ocupação da reitoria da USP pelos fefeleches, não são acidentes. São manifestações de um contínuo processo de subversão que, repetimos, é da índole das universidades.
Isso não significa que elas sejam inteiramente voltadas à subversão. Na verdade as universidades, desde o século 19, têm estado separadas entre dois pólos antagônicos: dum lado, as letras, humanas e sociais; e do oposto, as exatas, geralmente representadas pela engenharia. Entre os dois pólos flutuam, indecisas, as jurídicas, biomédicas e outras especialidades com menor comprometimento político. Essa polarização indica que a maioria dos alunos e professores não está engajada na subversão, mas não impede que a esquerda – as letras, humanas e sociais, ou seja, os fefeleches – prevaleça e apareça perante o público como a personificação política da universidade.
É, portanto, o predomínio dos fefeleches sobre as demais faculdades que dá à universidade o seu caráter subversivo. Mas não se pode culpá-los. Quem pesquisar a história das universidades desde o século 12 verificará que foram fundadas por humanistas, interessados em teologia, letras, filosofia, artes e direito, que num longo processo histórico estabeleceram o caráter e as tradições da instituição. Intelectualmente, os fefeleches de hoje são os legítimos herdeiros da universidade medieval. Herdeiros degenerados, sem dúvida, que cobririam de vergonha seus antepassados, mas herdeiros, de qualquer modo.
A polarização da universidade entre fefeleches e engenheiros é muito mais significativa do que parece. Ela reflete duas tendências antagônicas que dividem a elite de todos os países. Esse antagonismo explica muito da história contemporânea, e sua compreensão pode nos fornecer a chave do comportamento político das esquerdas brasileiras no poder, bem assim dos erros teóricos da nossa oposição.
Nos próximos artigos desta série, vamos examinar um pouco da história das universidades e do surgimento da classe dos intelectuais a partir do século 16. É na evolução dessa classe, cada vez mais consciente de si e de seus interesses, que está a explicação da misteriosa conspiração internacional, cuja base operacional é a rede universitária.
O Brasil, dominado pela camarilha dos fefeleches, caminha para o desastre. É preciso entender que nenhuma revolução poderá salvar o País se não mexer com a universidade. Dizia-se antigamente que ou o Brasil acabava com a saúva, ou a saúva acabava com o Brasil. Para acabar com o sauveiro é necessário chegar à rainha, a matriz reprodutiva do sistema. Nada de original nessa providência: foi exatamente isso o que todos os governos comunistas fizeram ao chegar ao poder. Os mesmos governos que os fefeleches tanto defendem e admiram.
* A. C. Portinari Greggio
Economista, ex-aluno da Escola
Preparatória de Cadetes de São Paulo
0 comments:
Postar um comentário