A ativação desse sistema mesolímbico de recompensa parece ser elemento comum a todas as drogas que fazem com que o usuário continue a consumi-las. Essa atividade não é exclusiva de uma única droga. Todas as substâncias que provocam adicção afetam esse circuito.
A drogadicção vem sendo considerada uma doença recidivante e crônica, caracterizada pela busca e consumo compulsivo de drogas. A chamada adicção a drogas é considerada como uma dependência de substâncias químicas, de acordo com a definição da Associação Americana de Psiquiatria, entretanto, é importante distinguir entre o uso moderado de substâncias, o abuso de substâncias e a dependência de substâncias (adicção). Nos seres humanos, felizmente, a grande maioria dos simples usuários de drogas não se torna usuário abusivo ou dependente químico.
Esse consumo estável e comedido de drogas pode ser observado em animais de laboratório, sem o aparecimento de sinais de dependência.
Existem muitos fatores envolvidos no desenvolvimento de dependência, como por exemplo, a disponibilidade da droga, a via de administração, o componente genético da pessoa, histórico pessoal de outras dependências, e estresse e eventos traumáticos de vida, enfim, podemos dizer que para a transição do simples uso de drogas à drogadicção muitos fatores atuam combinadamente. O desafio atual da ciência é descobrir quais são os elementos neurobiológicos e quais são as diferenças individuais capazes de vulnerabilizar pessoas para a dependência química.
A neurobiologia tem proposto a idéia de uma certa desregulação homeostática da busca do prazer um dos motivos pessoais para a busca das drogas. Vamos falar disso com o nome de desregulação hedonista (hedonista = para o prazer). Baseado nessas teorias da neurobiologia do comportamento, várias fontes de reforço podem ser identificadas no círculo vicioso da adicção (droga-prazer-culpa-falta de prazer-droga...), e os sintomas desse desregulação hedonista constituem critérios bem conhecidos para se identificar dependência química ou adicção.
Neurotransmissores críticos, hormônios e áreas neurobiológicas têm sido identificados como possíveis mediadores da chamada desregulação hedonista e podem ajudar a determinar os substratos de vulnerabilidade para a adicção a drogas e os elementos que protegem a pessoa dela.
Na fisiologia cerebral, a tomografia com emissão de pósitrons (PET), pode mostrar imagens onde as pessoas que usam cocaína apresentam um aumento no metabolismo da glicose em regiões cerebrais associadas com a memória e o aprendizado (córtex pré-frontal lateral, amígdala e cerebelo). Veja o Atlas PsiqWeb.
A neurofisiologia ainda está longe de saber as alterações na química e na estrutura cerebral envolvidas na recompensa prazerosa e que servem de reforço aos diversos comportamentos, inclusive ao uso de drogas. Alguns estudos indicam haver diversos neurotransmissores envolvidos e, principalmente, a liberação do neurotransmissor dopamina em uma região do cérebro chamada núcleo accumbens possivelmente relacionado à busca do prazer.
Este núcleo accumbens é quem recebe projeções de células dopaminérgicas situadas na área tegmental ventral, é um local de convergência para estímulos procedentes da amígdala, hipocampo, área entorrinal, área cingulada anterior e parte do lobo temporal. Deste núcleo partem eferências para o septo, hipotálamo, área cingulada anterior e lobos frontais. Devido às suas conexões aferentes e eferentes o núcleo accumbens desempenha importante papel na regulação da emoção, motivação e cognição.
O uso abusivo de drogas tem sido relacionado ao sistema mesocorticolímbico dopaminérgico. Dentro desse sistema dopaminérgico mesocorticolímbico estão sistemas de alguns neurotransmissores, como por exemplo o ácido gama-aminobutírico (GABA), o glutamato, a dopamina, a serotonina e os peptídeos opióides, juntamente com suas conexões com o núcleo acumbens e amígdala. Alguns estudos associam a liberação de dopamina no núcleo acumbens também às ações de reforço positivo do tetraidrocanabinol (THC), presente na maconha.
Para se ter noção das alterações cerebrais pelo uso de drogas, sabemos que a administração repetida de anfetaminas em ratos, produz alterações anatômicas no núcleo accumbens e no córtex pré-frontal, alterações essas capazes de durar mais de um mês depois da interrupção da droga. A exposição à anfetamina produzia aumento no comprimento dos dendritos (Veja o Atlas PsiqWeb), na densidade das espinhas dendríticas e no número de espinhas ramificadas dos neurônios espinhosos médios do núcleo accumbens e efeitos semelhantes nos dendritos apicais da camada III de neurônios piramidais no córtex pré-frontal.
Para o desenvolvimento da dependência é necessário que se recorra aos efeitos prazerosos da droga. Esse efeito prazeroso chama-se Reforço Positivo. O foco do mecanismo neurológico dos efeitos de Reforço Positivo capaz de gerar consumo abusivo de drogas tem sido o sistema mesocorticolímbico dopaminérgico e suas conexões com o cérebro basal anterior.
No caso da cocaína, das anfetaminas e da nicotina, a facilitação da neurotransmissão da dopamina no sistema mesocorticolímbico parece ser essencial para as ações de Reforço Positivo agudo dessas drogas. Vários receptores dopaminérgicos, tais como o D-1, D-2 e D-3, têm sido associados a essa ação de Reforço Positivo.
Estudos neurofarmacológicos sustentam a noção de
Continua...
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