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19/08/2008

Comunista come criancinhas


























De onde saiu a frase "Comunista come criancinhas"

Pois a muito que ouvimos a frase "Comunista come criancinhas".

Na verdade a frase tem fundamento histórico datada da década de 30 na extinta União Soviética.

É bom lembrar, quem divulga essa frase com sabor de deboche são os próprios comunistas, dando a entender que eles são inofensivos vitimas de calunias.

Agora acompanhe esse artigo que segue de Abel Morais, você descobrirá por que desta frase.

Um caso de barbárie soviética
- Desumanidade e descivilização na Rússia dos anos 30
Na Primavera de 1933 são desembarcadas cerca de cinco mil pessoas numa ilha perdida do rio Ob, na Sibéria Ocidental. A ilha é a de Nazino e destes cinco mil deportados, dois terços acabarão por perecer de fome, frio, doença, alguns vítimas de canibalismo.

Escassa percentagem do total de deportados nesse ano em toda a União Soviética, o destino trágico dos abandonados de Nazino interessou Nicolas Werth como exemplo da lógica do regime e dos seus objectivos de política geral. Considerado hoje um dos principais investigadores franceses do período soviético da história russa, o autor de L’Ile des Cannibales demonstra a fragilidade do regime, sentida a partir da liderança, a inadequação das suas políticas, os erros derivados dos «entusiasmos» de dirigentes locais e forças de segurança, o irrealismo das opções feitas no Kremlin, a obsessão com a consolidação do poder e o controlo da realidade social.

As páginas desta obra de Werth (um dos co-autores de Le Livre Noir du Communisme) concentram-se num dos períodos decisivos de confirmação do regime soviético, que acelera nesta época – início dos anos 30 – a erradicação dos camponeses proprietários, ao mesmo tempo que principia a limpeza política e social dos grandes centros urbanos destinados a transformarem-se «em montras do socialismo», como referem os textos oficiais. Processos que vão culminar numa repressão arbitrária e cega, assente numa lógica de desumanização que transformou anónimos russos em opositores políticos – reais ou imaginados – e, de seguida, em bandos armados combatendo para sobreviver, ainda que ingloriamente.

O palco destes combates vai ser a Sibéria, o extremo oriental da URSS, para onde são deportados em massa todos aqueles que o regime define como «elementos sem classe e socialmente indesejáveis». Forçados a organizar-se em grupos de guerrilha, conseguem por vezes resistir anos a fio, saqueando unidades agrícolas e enfrentando as forças da ordem soviética na região.

Primeiro investigador ocidental a consultar a documentação da comissão de inquérito que investigou na época o sucedido em Nazino, o autor refere que, em meados dos anos 30, «o banditismo é endémico nos Urais e na Sibéria, principais regiões de deportação e concentração de marginais», sendo um facto que o poder soviético quase não procede a distinções nem a tratamento diferenciado perante criminosos de delito comum e quaisquer outros indivíduos que entenda perseguir como «sabotadores e divisionistas» ou «cúmplices dos serviços secretos das potências estrangeiras».

Ironia das ironias, entre aqueles «indesejáveis» indignos de viverem nas «montras do socialismo» está largo número de militantes do partido comunista que, interpelados em rusgas por vezes à porta de casa, não tendo consigo os documentos necessários, acabam por ser detidos e vão partilhar a mesma sorte dos «inimigos do socialismo». É, aliás, uma exposição a Estaline, feita por um jornalista e membro do partido, Vassilii Arsenievitch Velitchko, sobre inúmeros casos que detectou de militantes e simpatizantes comunistas alvo daquele procedimento, que levará a uma posterior rectificação do «plano grandioso» do então responsável pela polícia política do regime, Genrikh Iagoda.

Numa linguagem de entusiasmo transbordante, Iagoda previa a deportação para a Sibéria e Cazaquistão, em 1933, de dois milhões de «elementos poluentes da sociedade socialista em construção». Entre estes estão os deportados de Nazino – 332 mulheres e 4556 homens. A maioria sem energias para conseguir sequer pôr-se de pé quando chega à ilha.

Provenientes de algumas das principais cidades russas, são deixados em Nazino praticamente sem alimentos ou utensílios, apenas farinha, sementes e algumas pás e picaretas. Era suposto estas pessoas – entre as quais se contam mulheres grávidas, crianças, idosos – construírem as suas habitações e garantirem a sua subsistência, constituírem uma força de trabalho ao serviço do regime, povoando uma das áreas mais remotas, mas também mais ricas em recursos naturais do espaço soviético. Em poucas semanas, uns tentam a fuga em jangadas improvisadas, enquanto a maioria definha inexoravelmente. O poder soviético inventara uma nova forma de massacre.

Estas pessoas, na grande maioria habituadas à vida nas cidades, «não tendo o espírito nem os recursos dos camponeses», como notava um responsável local, não tinham condições para enfrentar a vida numa região inóspita. O resultado será o fracasso abjecto de uma utopia de engenharia social e da máquina policial, política e administrativa de um regime incapaz de se perpetuar no poder excepto pela repressão.

Um dos aspectos que Werth demonstra de forma elucidativa é como o regime soviético procura deliberadamente destruir todas as formas de relacionamento interpessoal e as características da sociedade russa. O objectivo é impedir a expressão da solidariedade inerente ao processo de relacionamento presente em qualquer comunidade e a destruição de qualquer referência civilizacional, reduzindo toda e qualquer pessoa a uma entidade orientada exclusivamente para a sobrevivência e alheia a qualquer tipo de altruísmo, ajuda ou contacto, aspectos constituintes de uma relação social.

Um indivíduo orientado exclusivamente para a sua preservação desrespeita todas as regras e esquece os outros para se defender a si próprio. Esta é uma das características de uma situação de descivilização, como definida por Norbert Elias, que fala de uma série de fenómenos que incrementam a violência e propiciam a crise dos factores de estabilidade e de consistência nas relações sociais. Uma conjuntura marcada por estas características é ideal para o reforço do poder de uma organização que deixa de ter pela frente oposição organizada, núcleos de indivíduos agrupados em torno de interesses e capazes de contestar o monopólio de poder do regime que procurava consolidar-se na Rússia.

Incapaz de gerar os consensos suficientes para prosseguir a mudança social, o partido comunista vai impor as suas regras através de medidas repressivas e de acções punitivas, humilhando e criminalizando, primeiro, e descivilizacionando depois, grupos sociais inteiros. Uma situação de «fracasso da civilização» (Norbert Elias) caracterizada por uma profunda violência transversal a toda a sociedade, dos centros de poder à pessoa mais anónima; com a destruição ou subalternização das regras de referência, a regressão de valores e comportamentos, a negação de direitos civis e políticos desproporcionada face às acusações dirigidas a comportamentos e sectores sociais, que são criminalizados

O partido comunista soviético na época de que se ocupa L’Ile des Cannibales desencadeou um processo que conduzia à anomia política e social, espaço ideal para a aplicação da sua utopia de «despoluição» e «reabilitação» da sociedade. Dois conceitos que mascararam um processo de destruição da liberdade e dignidade humana, da autonomia social e cultural da maioria da população russa, tornada mera refém do regime.
Abel Morais no Causa Liberal


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